ALMANAQUE ANOS 70
Autora:Ana Maria Bahiana
Editora:Ediouro
Por : Eduardo Simões
A jornalista Ana Maria Bahiana foi uma típica "gata" dos anos 70. Vestia camisetas com silk screen, jeans surrado da lendária loja Lixão ou saia de "carne-seca", um baratíssimo tecido de algodão cru. Ouvia A Bolha e dançava no Frenetic Dancin' Days, no Rio, ou no Be Bop a Lula, em São Paulo. Seu "conhecimento de causa" lhe rendeu o convite para assinar o "Almanaque Anos 70", que acaba de ser lançado.
Com tiragem inicial de 20 mil cópias, o livro pega carona no sucesso de seu antecessor na Ediouro, o "Almanaque Anos 80", de Luiz André Alzer e Mariana Claudino, que vendeu cerca de 100 mil exemplares e ficou 56 semanas na lista de mais vendidos da Folha. Já estão programados os almanaques para os anos 50 (de Sérgio Augusto, em dezembro) e 90 (de Silvio Essinger, em 2007).
Ao longo de 416 páginas, ilustradas com cerca de 500 imagens, a década aos olhos de Bahiana aparece dividida em duas partes (de 1970 a 1974 e de 1975 a 1979) e espelhada em oito temas (ícones, estilo, música, verbo, artes & manhas, curtição, esporte e mídia).
"Eu me tranquei por um mês no Arquivo da Cidade [Rio] e mandei descer tudo dos anos 70. Não me interessava tanto pela notícia, mas pelo avesso dela, a foto, o classificado, o anúncio", conta Bahiana, que tem mais dois projetos "setentistas" na manga: o filme "1972", de que é roteirista e que estréia no segundo semestre, e uma "trilha sonora" do livro, com Raul Seixas, Novos Baianos etc., que sai no fim do mês.
Almanaque
No livro, Bahiana retrata os anos 70 através de ícones locais (Leila Diniz grávida, de biquíni) e internacionais (Farrah Fawcett, de "As Panteras", "o cabelo mais copiado do mundo"). E relembra que, no esporte, a década começou com o tricampeonato na Copa do México:
"Jairzinho, Gerson, Tostão e Pelé são os ícones da época. Mas o Brasil torcia trincado porque a ditadura explorava a seleção", diz a jornalista, que recorda ainda o início da época de ouro do Flamengo, com Zico, o bicampeonato do Palmeiras com Ademir da Guia e a quebra de um jejum de 22 anos do Corinthians, em 1977.
Na música, Bahiana diz que encontrou o "baú do tesouro", com álbuns "essenciais" (como "Transa", de Caetano) e "shows que todo o mundo comentou", como Refestança, com Rita Lee e Gil. Já a política aparece dispersa no almanaque. Entre os ícones políticos, o hoje presidente Lula aparece na capa de um exemplar do jornal gay "Lampião da Esquina", em que fala sobre "greves, bonecas e feministas", em julho de 1979.
"Lula começa a aparecer apenas no fim da década, ele é mais uma figura dos anos 80. Nos 70, há duas figuras: Vladimir Herzog, cuja morte sacode a mídia, e Gabeira, que era o 'poster boy' da Anistia com a sua tanga."
O capítulo da "curtição" foi o mais curtido por Bahiana. Nele, a jornalista identifica uma "expressão totalmente anos 70", no que chama de "guloseimas legais e ilegais, viagens físicas ou não, tudo que dava prazer".
"No início da década o lugar para quem queria agitar era o Rio. Na segunda metade, tudo muda. Tinha a Praia dos Artistas, em Salvador, o Bonfim, em Porto Alegre, e, em São Paulo, a Igrejinha, na Bela Vista. Era o Village da Paulicéia."
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